“Sei exatamente como é querer morrer, como dói sorrir, como você tenta se ajustar e não consegue, como você se fere por fora tentando matar o que tem dentro”. A frase, proferida por Winona Ryder no filme “Garota Interrompida”, reflete com exatidão os sentimentos de um portador de uma doença crônica e sem cura: o transtorno bipolar.
O TAB (transtorno afetivo bipolar do humor) é caracterizado pela variação brusca e extrema de temperamento, na qual uma hora a pessoa está eufórica, feliz e satisfeita, e, no momento seguinte, em depressão profunda.
Muito se engana quem acha que o distúrbio é relativamente recente. Segundo o psiquiatra José Alberto Del Porto, professor titular da Unifesp, os primeiros relatos referentes à doença bipolar remontam há muitos séculos. “Na realidade, há descrições sobre a doença desde o século I D.C., feitos por Araeteus da Capadócia, sobre a unidade da doença maníaco depressiva”, diz.
A bipolaridade é caracterizada pela ocorrência das fases maníacas, depressivas e pelos estados mistos (sintomas de mania e depressão ao mesmo tempo). As classificações oficiais incluem o transtorno bipolar do tipo I (mania plena e depressão maior) e o transtorno bipolar do tipo II (depressão maior alternada com hipomania – pequena mania -, ou mania mitigada, de menor intensidade e duração). O transtorno bipolar do tipo II é o mais prevalente na população geral, porém ainda pouco diagnosticado.
De acordo com Del Porto, a prevalência do transtorno bipolar, em suas formas típicas (I e II), chega a 1,4% da população geral3. “No entanto, ao incluir nas estatísticas as formas mais brandas da doença – o chamado ‘espectro bipolar’-, a prevalência chega a 4,5% da população geral, o que faz do transtorno bipolar um verdadeiro problema de saúde pública”, alerta.
Possuidora de uma carga genética amplamente reconhecida, a doença pode ocorrer não só na fase adulta, mas em qualquer fase na vida. “Embora se inicie geralmente no adulto jovem, o TAB pode começar também na infância e na adolescência. Nessa faixa etária, os episódios podem apresentar oscilações muito rápidas do humor, entre depressão e mania, muitas vezes no mesmo dia”.
Nesses casos, o diagnóstico deve ser realizado por psiquiatras em conjunto com psicopedagogos. “A enfermidade também acomete os idosos, motivada, na maioria das vezes, por causas orgânicas como as várias formas de demência comuns com o avanço da idade”.
A detecção do transtorno bipolar exige tempo, investigação cuidadosa e, muitas vezes, entrevistas com os familiares do paciente. O diagnóstico precoce é importante, pois pode prevenir recorrências futuras e deterioração da qualidade de vida.
“O diagnóstico não pode ser feito de forma ampla. É preciso levar em consideração uma série de critérios, como a duração dos sintomas, alteração no funcionamento do organismo, mudanças no relacionamento social, entre outros. Apesar de não ter cura, é possível prevenir os episódios com o tratamento adequado, que inclui medicamentos estabilizadores do humor e acompanhamento psicoterápico”, orienta o especialista.
Aprender a viver com uma condição crônica não é impossível. O psiquiatra ressalta a importância da adoção de alguns hábitos que os portadores de transtorno afetivo bipolar podem adotar no seu cotidiano para ajudá-los a conviver com a doença.
“É muito importante a educação do paciente e de seus familiares quanto à necessidade da adesão ao tratamento. Dormir e acordar em horários regulares e evitar os trabalhos em turnos é recomendável, uma vez que o bipolar costuma trocar o dia pela noite. Também é indicado evitar o consumo de álcool, cafeína, cigarros e drogas, como maconha e cocaína, que podem precipitar crises”, diz.
“Outra sugestão é participar de grupos de psicoeducação, que auxiliam e ensinam o paciente a lidar com a doença e prevenir suas recorrências”, conclui o médico.
Band Jornalismo
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