sábado, 13 de março de 2010

Energia realizadora

O chefe não deve contentar-se com tomar uma decisão; é necessário que essa decisão "se inspire na realidade". O que conta não é a ordem que se dá, mas a ordem que se executa.

Um chefe sem energia não saberia ser chefe. Não se trata, porém, duma energia brutal; antes duma energia realizadora que, proporcionando o seu esforço ao efeito que deseja obter, reserva sempre possibilidades para não ficar sem fôlego no momento de subir a encosta.

O chefe deve ser firme e não se deixar deter pelo primeiro obstáculo; conhece a divisa; ao "coração forte nada é impossível", e, segundo a fórmula do General Clement-Grandcourt, "o verdadeiro chefe, civil ou militar, espiritual ou temporal, sabe fazer o possível com o impossível"; é mesmo nisso que se reconhecerá o chefe.

Nada se obtém sem esforço, e o homem de acção não deve admirar-se de encontrar dificuldades. Podem provir de si próprio - e não são as mais fáceis de resolver. Podem vir da parte dos subordinados, ou mais ainda da parte daqueles que deveriam servir, para ele, de sustentáculo e apoio. Podem ter origem também nas circunstâncias e na própria natureza das coisas. O verdadeiro chefe aceita sempre o irreparável, e, como dizia Lyautey, "arranja-se".

O chefe conta com as dificuldades, mas não se deixa dominar por elas. Previstas ou imprevistas, fazem parte do programa.

As dificuldades existem para ser vencidas. Para um chefe, não constituem barreiras que o detenham, mas trampolins que lhe dão ocasião de se elevar, obrigando-o a vencê-las.

Um chefe, hábil e realista, não deve mudar muitas vezes de direcção. As mudanças muito frequentes inquietam os subordinados e tiram-lhes a confiança.

O êxito depende mais ainda da perseverança e da tenacidade na execução do que da habilidade na concepção.

O dom do chefe é o dom da energia. Mas, como dizia Foch, "por alma forte entende-se não a que conhece apenas as fortes emoções, mas antes aquela cujas fortes emoções não perturbam o equilíbrio".

Não há acção sem risco; mas aquele que nada arrisca nada tem. Torna-se necessário sopesar o risco, tentar diminuí-lo, mas, conforme os termos do regulamento da Marinha, "há que aceitá-lo com vontade firme e resoluta".

O esforço é a única fonte certa de liberdade e de ideal contra a anarquia interior do instinto e dos apetites egoístas. Quem salva o esforço, salva a personalidade, e pelo mesmo facto, a comunidade.

Seja o que for que façais na vida, fazei-o com o maior vigor possível. (Lyautey)

Só é verdadeiro chefe aquele que sabe triunfar dos obstáculos excepcionais; e não os vencerá, se não der prova duma vontade também excepcional. Ora nada exige mais alto grau de vontade, nada tem mais influência nas suas faculdades do que o domínio das próprias paixões, dos desejos veementes, das suas atitudes exteriores, reprimindo todos os gestos inúteis ou excessivos de alegria, de sofrimento, de espanto, de entusiasmo, de terror; o domínio da sua fisionomia que sabe ficar impassível nas piores angústias. Tudo isto faz parte do auto-domínio, tudo isto imprime na face traços austeros, e dá-lhe certo ar a um tempo firme e inexorável que convida à obediência; com efeito, quem não poupa as suas próprias fraquezas possui autoridade para não poupar as de outrem. Quem sabe dominar-se saberá afrontar a resistência de seus subordinados. Numa palavra, o perfeito auto-domínio prepara a autoridade. (J. Toulemmonde, L' Art de Commander)

Qualquer resultado, por mais pequeno que seja, exige certa firmeza e certa tenacidade.

E a inteligência? Há que possuí-la, com certeza. Todavia, antes de tudo, a vontade: uma vontade firme que não se disperse. Tudo está nisto: querer... Mesmo com uma inteligência mediana, aquele que fixa toda a sua vontade num determinado objectivo, e persevera, mantendo preso o espírito, tem a certeza de triunfar. Tomai uma ideia, fixai-a como estrela polar, caminhai com os olhos postos nela. Ninguém triunfa senão por um trabalho aturado e bem dirigido. (Foch)

Só os audazes realizam. Só os organizadores triunfam. O que muitas vezes pode parecer "sorte" ou "acaso" não é senão fruto de longo trabalho preparatório e da vontade de chegar ao fim.

A acção não é outra coisa senão uma adaptação incessante de si mesmo e das circunstâncias da vida a um fim claramente entrevisto, e obstinadamente desejado.

Qualquer que seja o ideal que anima um chefe, há horas em que o labor quotidiano lhe pode parecer pesado. Basta ser homem para sentir-se tomado por certa lassidão à qual vem juntar-se um pouco de amargura, dado que as condições de trabalho são por vezes ingratas. Mas que se lembre de que nenhum esforço se perde, nenhuma derrota se torna definitiva.

Que se sinta que o chefe apenas se decide por motivos muito nobres: o dever, o bem comum, esquecendo-se de si próprio, mas para isso, terá de permanecer senhor de si, da sua emoção, do seu capricho ou da sua cólera. Não deve nunca perturbar-se, deixar-se surpreender, desconcertar-se. Mas que se sinta também, uma vez tomada a decisão, que nada poderá dobrar a sua vontade, e que, se possui alma grande para reconhecer seus erros e corrigir seus pontos de vista, possui também alma muito grande para não tergiversar perante os deveres necessários, mesmo com risco da sua tranquilidade. (Bessières)

Todo o chefe deve contar com vida dura, física e moralmente. Conhecerá talvez mais derrotas que vitórias, mais decepções do que alegrias, mais incompreensões do que recompensas, mais ingratidões do que encorajamentos, mais dificuldades do que oportunidades de triunfar. Mas o verdadeiro chefe não se deixa deter por esta perspectiva, porque tem outra em seu coração: a da faculdade invisível da acção desinteressada que transcende as aparências. Nesta fé encontrará a fonte oculta das suas melhores energias.(Aldeia)

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