Eu fui uma daquelas pessoas que dava asas à imaginação e se deixava embalar por sonhos coloridos, mas não sofria com a sua não realização no momento; ao contrario, projetava-os, agendava-os segura de que no momento certo eles haveriam de se materializar. Ainda me comprazia com os acessórios que ia neles colocando.
Sonhava com pequenas coisas - desde entrar em supermercados e comprar todas aquelas comidas, bebidas de preços proibitivos, sem me preocupar com estouros no orçamento; sonhava em não ter que me limitar ao consumo de frutas e verduras de época, em razão dos custos.
Esta revelação, talvez leve algum leitor a rir-se de mim enquanto se pergunta: sonhar em comprar comidas, com tantas coisas fantásticas para serem objetos de sonho, no mínimo cheira a pieguices. Não, aquilo que representa façanha para um, pode ser entendido como rotina para outro. O herói, afinal não é aquele que faz o que está dentro dos seus limites?
Bem, passemos aqueles que mexem com a nossa vaidade desfrutar da segurança, do ar condicionado dos “shoppings”, olhar as belas vitrines, as pessoas bonitas, saudáveis, bem vestidas, aparentemente de posse, como se o adjetivo “feio” fosse apenas uma invenção do Aurélio e só dele contasse.
Entrar nas livrarias, comprar os mais vendidos da semana e ter tempo para lê-los; comprar aqueles CDs que mexem com a minha emoção e ter tempo para ouvi-los, enfim andar pelos intermináveis corredores deste mercado de luxo a exibir sacolas de “griffes” que denunciam a condição, principalmente financeira do homem globalizado.
Mas, os meus vôos eram bem mais altos, não podiam ser comparados aos da gaivota, eram vôos de águias em sua segunda fase da vida, aquela conhecida como a do renascimento. Eu compraria livros e revistas, acessaria “sites” tudo especializado em viagens e me lançaria, tal qual um foguete da Nasa, pelo mundo.
Contemplaria paisagens conheceria pessoas, admiraria o belo, o feio, curtiria curiosidades, deixar-me ia consumir pela arte, pela cultura de cada povo, beberia a geografia que me era custosa no colégio, comeria comidas exóticas, dormiria em camas diferentes e... é ... vocês haverão de estranhar, mas todas as manhãs, ao despertar, realizaria um sonho alimentado todos os dias da minha vida em que me movimentei ao ritmo de ponteiros miseráveis, algozes humanos o de um rico café, sem pressa, com o requinte de leitura de jornais.
Todavia, eu já passei dos 60 anos e tenho muita pressa, pois sei que o tempo urge para o homem a partir da sua 5° década e os sonhos vão se constituindo utopia. Porém, o pior disso tudo é o desbotamento dos meus sonhos eles perderam um pouco da cor que ostentavam nos meus dias de jovem.
Então, no momento em que os cheiros da aposentadoria recendem na minha vida, eu já aproveito para pensar em uma atividade que reforce meu orçamento, pois será indispensável à compra de medicamentos tão comuns ao homem de 3° idade.
E os sonhos? Bem, uma casa que tenha parapeito na janela onde eu possa colocar vasos de lindos gerânios, a fotografia dos netos e uma televisão nova, dessas de controle remoto para não me exigir muitos movimentos.
Ah! Faltou algo? O café da manha? Agora já não da mais. Eu faço dietas gordura e glicose alterados, para usar um eufemismo e bem poucas coisas posso comer. E quanto ao jornal, a catarata que recobre o azul dos meus olhos me impede de ler. Então, fica para a próxima, quem sabe.
E você, diferentemente de mim, tem alguma apólice de seguro contra o tempo, contra a morte?
Julieta de O. Andrade, Florianópolis.
Sonhava com pequenas coisas - desde entrar em supermercados e comprar todas aquelas comidas, bebidas de preços proibitivos, sem me preocupar com estouros no orçamento; sonhava em não ter que me limitar ao consumo de frutas e verduras de época, em razão dos custos.
Esta revelação, talvez leve algum leitor a rir-se de mim enquanto se pergunta: sonhar em comprar comidas, com tantas coisas fantásticas para serem objetos de sonho, no mínimo cheira a pieguices. Não, aquilo que representa façanha para um, pode ser entendido como rotina para outro. O herói, afinal não é aquele que faz o que está dentro dos seus limites?
Bem, passemos aqueles que mexem com a nossa vaidade desfrutar da segurança, do ar condicionado dos “shoppings”, olhar as belas vitrines, as pessoas bonitas, saudáveis, bem vestidas, aparentemente de posse, como se o adjetivo “feio” fosse apenas uma invenção do Aurélio e só dele contasse.
Entrar nas livrarias, comprar os mais vendidos da semana e ter tempo para lê-los; comprar aqueles CDs que mexem com a minha emoção e ter tempo para ouvi-los, enfim andar pelos intermináveis corredores deste mercado de luxo a exibir sacolas de “griffes” que denunciam a condição, principalmente financeira do homem globalizado.
Mas, os meus vôos eram bem mais altos, não podiam ser comparados aos da gaivota, eram vôos de águias em sua segunda fase da vida, aquela conhecida como a do renascimento. Eu compraria livros e revistas, acessaria “sites” tudo especializado em viagens e me lançaria, tal qual um foguete da Nasa, pelo mundo.
Contemplaria paisagens conheceria pessoas, admiraria o belo, o feio, curtiria curiosidades, deixar-me ia consumir pela arte, pela cultura de cada povo, beberia a geografia que me era custosa no colégio, comeria comidas exóticas, dormiria em camas diferentes e... é ... vocês haverão de estranhar, mas todas as manhãs, ao despertar, realizaria um sonho alimentado todos os dias da minha vida em que me movimentei ao ritmo de ponteiros miseráveis, algozes humanos o de um rico café, sem pressa, com o requinte de leitura de jornais.
Todavia, eu já passei dos 60 anos e tenho muita pressa, pois sei que o tempo urge para o homem a partir da sua 5° década e os sonhos vão se constituindo utopia. Porém, o pior disso tudo é o desbotamento dos meus sonhos eles perderam um pouco da cor que ostentavam nos meus dias de jovem.
Então, no momento em que os cheiros da aposentadoria recendem na minha vida, eu já aproveito para pensar em uma atividade que reforce meu orçamento, pois será indispensável à compra de medicamentos tão comuns ao homem de 3° idade.
E os sonhos? Bem, uma casa que tenha parapeito na janela onde eu possa colocar vasos de lindos gerânios, a fotografia dos netos e uma televisão nova, dessas de controle remoto para não me exigir muitos movimentos.
Ah! Faltou algo? O café da manha? Agora já não da mais. Eu faço dietas gordura e glicose alterados, para usar um eufemismo e bem poucas coisas posso comer. E quanto ao jornal, a catarata que recobre o azul dos meus olhos me impede de ler. Então, fica para a próxima, quem sabe.
E você, diferentemente de mim, tem alguma apólice de seguro contra o tempo, contra a morte?
Julieta de O. Andrade, Florianópolis.
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